Com uma festa de gala no Sertão, 42 graduandos da reforma agrária comemoram a conquista do nível superior, no sábado (20), na Bahia. Trata-se da colação de grau, seguida de festa, do curso em Licenciatura em Letras, iniciado em 2006, fruto de um convênio firmado por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), entre o Incra, na Bahia, e a Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
A solenidade começa às 20 horas, na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), no município de Conceição do Coité, situado no território da cidadania do Sisal. Foi no Campus 14, do Departamento de Educação da Uneb, localizado nesse município, que os estudantes de reforma agrária frequentaram as aulas de Licenciatura. Em sua maioria, os alunos são oriundos de assentamentos sertanejos. Há ainda um pequeno grupo vindo do Litoral Sul.
Esta é a quarta turma de nível superior concluída pelo Pronera, na Bahia. Foram duas turmas com 91 pedagogos, que terminaram o curso de Pedagogia da Terra em 2010. Outra, com 44 estudantes, Licenciatura em Letras, foi finalizada neste ano, em Teixeira de Freitas, Extremo Sul do estado. Estão em andamento duas turmas de bacharelado em Engenharia Agronômica, com ênfase em Agroecologia, que totalizam 78 futuros engenheiros e que tem previsão de conclusão, no primeiro semestre de 2013.
Oportunidade
“O Pronera é estratégico para o aprofundamento e formação dos trabalhadores rurais”, entende o superintende regional do Incra, na Bahia, Marcos Nery. A inserção de novos conhecimentos entre os assentados, de acordo com Nery, é um pilar para o desenvolvimento dos assentamentos e estímulo para os trabalhadores rurais e seus filhos busquem a expansão de suas áreas.
A coordenadora do curso em Licenciatura em Letras da Uneb, Joselita Gabriel da Silva, acrescenta que a iniciativa oportuniza uma chance de aprendizado para alunos que não teriam acesso a uma graduação. “O Pronera proporciona uma estrutura específica para estudantes que dificilmente cursariam a faculdade. São oportunidades vitoriosas”, avalia.
Diferenças e sonhos
O formando em Licenciatura em Letras, José Roque Saturnino, que vive no assentamento Lagoa do Boi, em Santa Luz, conta que a turma mudou o modo de os estudantes do Campus 14 da Uneb verem a reforma agrária. “Quando chegamos, éramos vistos com preconceito e, ao longo do tempo, fomos quebrando essas diferenças”, ressalta.
Saturnino compara a experiência a um processo dialético. “Foram ideias que se somaram e criaram um jeito diferente de fazer uma graduação, trabalhando o pensar, o sentir e o querer”, filosofa. Segundo ele, houve uma melhor compreensão entre professores e alunos do campus sobre a relação com a terra, o associativismo e o cooperativismo.
Com a Licenciatura em Letras nas mãos, Saturnino pretende fazer uma pós-graduação e tem um grande sonho de estudar jornalismo. “Também quero dar retorno ao investimento que recebi, apoiando o assentamento, os movimentos sociais e os nossos financiadores. Pretendo de algum modo ajudar a aprimorar a oportunidade que tive”.
Cíntia Melo
Assessoria de Comunicação Social
Incra/BA
DRT 1816/BA
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